Em cada porto, onde as águas se encontram com a terra, uma figura essencial garante a segurança da navegação: o prático. Esse profissional altamente especializado que atua na atracação e desatracação dos navios nos portos possui um conhecimento profundo das características locais. Isso inclui correntes marítimas, profundidade do leito e ventos, o que o torna indispensável para conduzir grandes navios em áreas de difícil acesso.
“A atividade do prático vai muito além de apenas pilotar um navio até o porto. Ele precisa estar constantemente atualizado sobre as novas tecnologias embarcadas e as mudanças nas rotas marítimas. Afinal, os navios estão cada vez maiores e mais complexos, exigindo manobras precisas e seguras”, afirma Fábio Mello Fontes, de 85 anos, o prático mais velho em atividade no Brasil e que atua há mais de cinco décadas no Complexo Portuário de Santos, no litoral paulista.
Como um prático atua?
A dinâmica entre o prático e o comandante do navio é uma parceria fundamental para garantir a segurança da navegação, especialmente em áreas restritas como os portos. Com seu profundo conhecimento das condições marítimas e fluviais locais, o prático atua como um guia experiente, complementando a expertise do comandante na condução da embarcação em alto-mar.
Quando um navio se aproxima de um porto, a partir de um determinado ponto, a presença do prático se torna obrigatória por lei. Este sobe no navio por uma escada suspensa externa na embarcação antes de entrar no canal de acesso ao porto. O comandante, então, transfere parte de sua autoridade para o prático, permitindo que este assuma o controle das manobras mais delicadas, como a atracação e a desatracação.
A atuação dos práticos no Brasil é regulada pela Marinha por meio de processo seletivo. Atualmente, são em torno de 600 práticos habilitados para atuar nos portos do Brasil. Também é necessário dominar diferentes idiomas, o que facilita a comunicação com as tripulações embarcadas.
Prático: amor pela navegação
A oportunidade de conduzir grandes navios e de participar ativamente do processo de movimentação de cargas é uma fonte de grande satisfação para esses profissionais apaixonados pelo mar.
“A sensação de dominar a natureza e de contribuir para o desenvolvimento econômico do país são alguns dos fatores que nos motiva. Além disso, o trabalho em equipe com a tripulação e a possibilidade de conhecer diferentes lugares são outros atrativos da profissão”, acrescenta Fontes.
Diante deste cenário, a atividade oferece perspectivas promissoras, especialmente com o crescimento do comércio marítimo e a constante evolução da tecnologia naval. A demanda por profissionais qualificados para conduzir navios de grande porte em áreas cada vez mais complexas tende a aumentar.
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O reconhecimento da importância da atividade para a segurança da navegação e o desenvolvimento econômico têm levado a um maior investimento em treinamento e qualificação desses profissionais por parte das associações de práticos. Além disso, a crescente preocupação com a segurança ambiental e a proteção dos ecossistemas marinhos também têm contribuído para valorizar ainda mais o papel do prático.
Porto de Santos: a importância do prático
A profissão de prático, no entanto, não está isenta de riscos. As condições climáticas adversas, como ventos fortes e neblina, podem comprometer a visibilidade e dificultar as manobras. Além disso, o embarque e desembarque do prático, muitas vezes em condições adversas, representa um risco à sua segurança. “O nevoeiro é um dos maiores desafios que enfrentamos. Ele pode surgir de repente e reduzir drasticamente a visibilidade, exigindo uma rápida tomada de decisão”, explica Fontes.
O Complexo Portuário de Santos, o maior em movimentação de cargas na América Latina, é um exemplo da importância da praticagem. A cidade depende do porto para sua economia, e a segurança das operações é fundamental para garantir a confiança dos armadores e dos importadores e exportadores.
Com a chegada de navios cada vez maiores, a praticagem de Santos tem se adaptado para atender às novas demandas. A autoridade portuária e os práticos investem em tecnologia e treinamento para garantir a segurança e a eficiência das operações. “A tecnologia desempenhará um papel cada vez mais importante, com o uso de simuladores de navegação e sistemas de apoio à decisão”, finaliza Fontes.