Trazer milhares de veículos elétricos da China ao Brasil antes de junho de 2024 foi um quebra-cabeça logístico que exigiu criatividade, cooperação e reinvenção. Esse foi o foco da palestra de Melissa Toresin, supervisora de Importação e Exportação da BYD, no primeiro dia da 9ª Semana Cultural Allog. O evento conecta o time de colaboradores das 3 empresas do grupo (Allog, FTrade e Fortallog) às tendências do setor.
O objetivo era claro: aproveitar o cenário ainda favorável do imposto de importação de veículos elétricos — antes do aumento previsto — para atender à crescente demanda por carros elétricos no país. Com uma operação que envolveu múltiplos parceiros, incluindo a própria Allog, e um planejamento feito, nas palavras de Melissa, “a 10 mãos”, a BYD precisou romper barreiras do comércio exterior para garantir que os veículos chegassem a tempo. “Foi preciso reinventar o Comex e buscar alternativas com criatividade e parceiros confiáveis para fazer dar certo”, afirmou a supervisora. O volume total no país foi de 130 mil veículos em 2024.
Só em Itajaí (SC), 7.292 veículos híbridos e elétricos da BYD desembarcaram no primeiro semestre de 2025. A operação levou 3,5 dias e envolveu o uso de 128 cegonhas. Somou mais de 850 viagens até o centro de distribuição em Araquari, no norte de Santa Catarina. Para contornar a limitação de espaço em navios ro-ro (formato ideal para carregar este tipo de carga), 70% dos carros teve que ser embarcada em contêineres.
Investimento no Brasil
A BYD, gigante chinesa da mobilidade elétrica, energia renovável e eletrônicos, tem investido pesado para tornar o Brasil um hub estratégico. Desde sua chegada ao país em 2014, a montadora já conta com duas fábricas em Campinas (SP) – uma de chassi de ônibus e outra de painel solares – e acaba de inaugurar sua primeira planta de automóveis fora da China em Camaçari (BA).
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O complexo, implantado no terreno de uma antiga fábrica da Ford, abrange 26 galpões, uma pista de testes e infraestrutura para produção de veículos elétricos e híbridos. Tem capacidade inicial para até 150 mil unidades por ano, expandindo-se para 300 mil até 2028. O investimento total chega a R$ 5,5 bilhões — cerca de US$ 1 bilhão.
Melissa destacou ainda que a demanda crescente por veículos elétricos e híbridos no país, somada à busca brasileira pela descarbonização, foram fatores determinantes para o investimento em território nacional. O Brasil, segundo ela, “é uma China 2.0”, e vem liderando a revolução da mobilidade sustentável na América Latina. Em maio deste ano, a BYD já figurava em 9º lugar entre os veículos mais vendidos no país, com uma rede de 200 concessionárias.
Autonomia logística
A empresa também está investindo para ter maior autonomia logística: lançou seus próprios navios ro-ro (roll-on/roll-off). Hoje, já opera com quatro embarcações e tem mais quatro em construção, o que deverá reduzir a dependência de espaços em linhas comerciais. O maior navio automotivo do mundo, o BYD Shenzhen, chegou ao Brasil em maio. Transportou mais de 7.000 veículos elétricos e híbridos plug-in.
Além da mobilidade, a BYD vem ampliando sua infraestrutura energética no Brasil. Com o apoio de parceiros, busca expandir os pontos de recarga em postos de combustível pelo país, apostando num futuro mais limpo e eficiente.