Navios sucateados: o que acontece no fim da vida útil?

Compartilhe esse artigo

Você sabe o que acontece com os navios sucateados?

De 25 a 30 anos: esta é vida útil média de um navio comercial. Depois disso, as embarcações começam a enfrentar custos operacionais crescentes, riscos de segurança e, cada vez mais, uma pressão regulatória ambiental rígidas. Mas você já se perguntou o que realmente acontece com esses gigantes do mar quando eles não servem mais para navegar?

Em 2024, segundo dados da Alphaliner – The Worldwide Reference in Liner Shipping – apenas 56 navios, totalizando 80.950 TEUs, foram enviados para desmantelamento — menos da metade dos 162.000 TEU sucateados em 2023. O motivo? A alta histórica nas tarifas de frete tornou mais rentável manter navios operando, mesmo que envelhecidos, do que vendê-los para sucateamento, mesmo com os bons preços da indústria de demolição e o avanço das taxas de emissões de CO₂.

>>> Agente de carga: como garantir a logística internacional eficiente

A expectativa era outra. O mercado aguardava um “boom” no desmantelamento em 2024, devido ao envelhecimento acelerado da frota global, à chegada de 3 milhões de TEUs em novos navios nos estaleiros e à imposição de normas ambientais mais rígidas. Mas a crise geopolítica no Mar Vermelho mudou tudo. Com rotas comprometidas e fretes nas alturas, o sucateamento ficou em segundo plano — ao menos por enquanto.

Destino dos navios sucateados

O desmantelamento responsável é o destino mais desejável – e raro. Quando conduzido corretamente, cerca de 90% dos materiais de um navio (aço, ferro, alumínio, plásticos) são reaproveitados. Até objetos como pias, luminárias e utensílios de cozinha são vendidos. Esse método reduz a exploração de recursos naturais e melhora a pegada ambiental da indústria naval. Infelizmente, poucos navios seguem esse caminho.

O polêmico encalhe no sul da Ásia

Cerca de 70% dos navios desmantelados no mundo seguem para praias da Índia, Bangladesh e Paquistão. Lá, são encalhados propositalmente em bancos de lama e desmontados manualmente, em condições precárias e sem contenção de resíduos tóxicos. A ONG Shipbreaking Platform denuncia há anos os riscos dessa prática, que expõe trabalhadores a materiais perigosos como amianto e óleo pesado, além de contaminar ecossistemas costeiros.

Recifes artificiais e afundamentos planejados

Uma pequena parte dos navios sucateados é limpa de materiais tóxicos e afundada intencionalmente para servir como recifes artificiais, promovendo biodiversidade marinha e atividades de mergulho recreativo. Outros, como o famoso navio Bianca C (de cruzeiro italiano, popularmente conhecido como o “Titanic do Caribe”, que naufragou em 1961 após um incêndio e explosão ao largo da costa de Granada), afundam por acidente, mas acabam se tornando pontos turísticos subaquáticos.

Em alguns casos, navios são revendidos a empresas menores ou reaproveitados como hotéis flutuantes, centros de convenções ou restaurantes. O icônico Queen Mary, hoje atracado na Califórnia, é um exemplo clássico. Outros navios são rebatizados e continuam navegando sob bandeiras de baixo custo.

Navios também podem ser simplesmente abandonados, como o World Discoverer, encalhado nas Ilhas Salomão desde 2000. Embora muitas vezes se tornem atrações turísticas, esses naufrágios representam riscos à navegação e ao meio ambiente, e removê-los pode ser custoso — técnica e politicamente.

O problema dos números

50 mil navios comerciais circulam pelos oceanos atualmente.

Cerca de 1.000 chegam ao fim de sua vida útil todo ano.

70% desses são desmantelados nas praias do Sul da Ásia.

Em 2019, 674 navios foram enviados para sucata, segundo os dados mais recentes da ONG Shipbreaking Platform.

O que diz a lei?

A regulação internacional avança, mas enfrenta barreiras:

Convenção de Nairóbi (2007): permite a remoção legal de naufrágios perigosos.

Convenção de Hong Kong (2009): busca tornar o desmantelamento seguro e sustentável — ainda não entrou em vigor.

A convenção de Basileia (1989): regula o envio de resíduos perigosos entre países.

Regulamento da UE (2018): exige que navios sob bandeira europeia sejam reciclados apenas em estaleiros certificados.

O futuro do sucateamento naval

A crise no Mar Vermelho deve ser passageira. Quando as rotas forem normalizadas e a oferta de novos navios pressionar o mercado, espera-se que a indústria retome com força a demolição. Nesse cenário, o desafio será conciliar a lógica econômica com práticas sustentáveis e humanas.

Fontehttps://safety4sea.com/

 

Mais artigos

DDP aos Estados Unidos
Geral

DDP aos Estados Unidos: cotação pode sofrer alterações

A mudança no cenário das cotações DDP aos Estados Unidos pode impactar as empresas que exportam para o país. Hoje, as cotações DDP (Delivered Duty Paid) são baseadas no acordo GSP (Generalized System of Preferences), do qual o Brasil é signatário. Isso significa que, quando determinado HS Code (Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de

Transporte aéreo internacional
Ações

Transporte aéreo internacional vai movimentar US$ 6,2 trilhões em 2018

Um total de US$ 6,2 trilhões em cargas serão transportados, em valor de mercadorias, por aviões até o final de 2018 no mundo. Somente no Brasil, o setor aéreo gera nada menos que 1,1 milhão de empregos, envolvendo 128 aeroportos em todos os estados do país. Dados como este foram trazidos pelo gerente comercial da

Rolar para cima