O transporte marítimo mundial jamais será o mesmo a partir de 1º de janeiro de 2024. Isso porque entrará em vigor o IMO 2023, regras estabelecidas pela Organização Marítima Internacional que obriga todos os navios a calcularem seu Índice de Eficiência Energética (EEXI) e iniciarem a coleta de dados para o relatório de seu indicador anual de intensidade de carbono operacional (CII). Tendo em vista que os navios são responsáveis por 1 bilhão de toneladas de CO2 e GEE (Gases de Efeito Estufa) anuais lançadas na atmosfera, o objetivo é reduzir as emissões em prol do planeta.
O tema foi abordado por Érika Jamas diretora comercial da CMA CGM, que falou sobre “Indústria do shipping no pós-pandemia” no primeiro dia da Semana Cultural Allog 2023. O evento é voltado ao t ime de colaboradores do Grupo Allog para atualização sobre o mercado logístico e do Comex.
Érika explica que o IMO 2023 impactará diretamente o mercado marítimo internacional nos próximos anos. Isso porque, à semelhança dos selos de eficiência energética que nos acostumamos a ver nas geladeiras de forma lúdica, navios mercantes que hoje possuem classificação energética nível D e E precisarão se adaptar para alcançar, pelo menos, o índice C em apenas 2 anos, sob o risco de não poderem mais operar em linhas internacionais.
Mas, afinal, como ficará o custo do frete?
As dúvidas são muitas. A estratégia adotada para tornar o transporte internacional cada vez menos poluente será economicamente sustentável? Será necessário renovar 100% das frotas de navios de carga? Como os armadores lidarão com as transformações necessárias em rotas marítimas já existentes? O frete marítimo ficará mais caro?
Segundo Érica, todas as companhias precisarão considerar suas rotas de uma nova forma a partir de 2024. Além da instalação de filtros no motor dos navios e mudança de combustível, será necessário “aposentar” pra sempre boa parte da frota e reformular serviços marítimos. “Uma das primeiras medidas será reduzir a velocidade de alguns navios para que alcancem o índice adequado de eficiência energética”, cita a diretora comercial da CMA CGM.
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Como exemplo, um serviço semanal que hoje opera com 6 navios poderá precisar de 8 ou 9 embarcações para manter a mesma regularidade. Um dos efeitos imediatos é a possível elevação do custo do frete nos próximos 2 ou 3 anos. “Será uma equação desafiadora. Com menos navios e automaticamente menos espaço para as cargas, é provável que o mercado sinta uma regulação imediata entre oferta e demanda”, cita.
Só para se ter uma ideia mais clara do impacto das mudanças, a fatia de navios de carga refrigerada que serão tirados de circulação nos próximos 2 anos representará o espaço equivalente a 500 mil contêineres refrigerados.
Novos navios
De acordo com a IMO, se nada for feito, até 2050 as emissões poderão aumentar entre 90% e 130% dependendo de diferentes cenários econômicos e energéticos de longo prazo. No Brasil, circulam cerca de 70 navios de diferentes armadores na rota comercial mercante. Destes, todos os serviços deverão ser adequados ao IMO 2023.
Neste contexto, as companhias marítimas já encomendaram navios novos e mais sustentáveis, adaptados para a categoria A ou B. Atualmente, a CMA CGM já possui novos navios encomendados e voltados para sustentabilidade, a exemplo do CMA CGM Jacques Saadé, navio LNG do grupo. Um deles é específico para as águas brasileiras: uma embarcação mais larga e rasa para se adaptar ao calado dos nossos portos. Logo após a transformação dos navios mercantes, será necessário adaptar os navios de passageiros e, a longo prazo, também as aeronaves ao redor do mundo.
Entenda melhor o IMO 2023
À semelhança daqueles selos de eficiência energética das geladeiras, com o IMO 2023 os navios passam a ser classificados conforme seu nível de eficiência energética. São 3 indicadores específicos: o Energy Efficiency Existing Ship Index (EEXI), o Carbon Intensity Indicator (CII) e o Ship Energy Efficiency Management Plan (SEEMP). O secretário-geral da IMO, Kitack Lim, afirma que a descarbonização do transporte marítimo internacional é uma questão prioritária para a IMO. “Estamos todos comprometidos em agir juntos na revisão de nossa estratégia e no aprimoramento de nossa ambição”.
Os 3 indicadores que classificam a eficiência energética dos navios:
1) Energy Efficiency Existing Ship Index (EEXI)
Aplicável a todos os navios com mais de 400 toneladas, porém de maneira proporcional a um “patamar mínimo” que vai variar de acordo com os diferentes tipos, tamanhos e categorias de navios (o cálculo do EEXI tende a impactar mais os navios mais antigos).
2) Carbon Intensity Indicator (CII)
Os navios serão classificados em: A, B, C, D ou E (sendo “A” o melhor) de acordo com a emissão de GEE proporcional à quantidade de carga e a distância percorrida. Esse índice determinará o fator de redução anual necessário para assegurar a contínua melhoria da intensidade de emissão de carbono dos navios. Embarcações menores ou mais antigas tenderão a se focar em rotas curtas/regionais. O navio que por três anos consecutivos for classificado como “D” e “E” deverá tomar medidas corretivas, a exemplo de mudar o combustível, trocar de rota ou diminuir a velocidade, para reclassificar-se no nível “C”.
3) Ship Energy Efficiency Management Plan (SEEMP)
Passará a ser um documento obrigatório do navio, estabelecendo o plano para melhorar sua eficiência energética de maneira economicamente viável.