Uma espécie de caos logístico no Sul e Sudeste vem afetando a malha portuária brasileira. As obras nos berços de atracação da Portonave, em Navegantes, para receber navios de 400 metros de comprimento (a nova geração de embarcações mercantes) e o cenário incerto da retomada das operações de carga no Porto de Itajaí geraram um desafio logístico sem precedentes em Santa Catarina desde o início de 2024. As consequências já afetam toda a infraestrutura da região Sul, com impactos diretos na economia e na competitividade das empresas.
A situação vem gerando efeitos negativos até mesmo no Porto de Santos, o maior da América Latina, agravados por um incidente em um dos berços da Brasil Terminal Portuário (BTP). Os atrasos para atracação no terminal de Santos têm variado de 3 a 4 dias e a previsão de reparo está estimada em até 10 meses. Além disso, reflete ainda mais nas operações e capacidade dos portos da região Sul.
Efeito cascata no caos logístico do Sul e Sudeste
Outros fatores paralelos geram um efeito cascata na infraestrutura do Sul e Sudeste. Operando com 105% da capacidade do pátio, o Porto de Itapoá (SC) também enfrenta problemas na liberação de cargas com o Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa). Isso atrasa ainda mais o escoamento do volume represado. O Porto de Paranaguá (PR), por sua vez, está no limite da oferta de espaço para armazenamento de carga conteinerizada, além de ter menor disponibilidade de equipamentos de 40 pés. No Sudeste, o Porto de Vitória sofre com a falta de contêineres de 20 pés para cargas seca.
Com tantos fatores associados, incluindo a omissão de escalas de navios, os congestionamentos nos portos que provocam atrasos nas operações e dificuldades no cumprimento de prazos, inevitavelmente desencadeiam desafios no mercado logístico. No entanto, é importante destacar que o caos logístico teve o “estopim” na pandemia, quando havia regras para que navios pudessem atracar devido à quarentena, o que impactou fortemente o fluxo das operações de carga e descarga.
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Porto de Itajaí: inatividade prejudica o fluxo
De quebra, a inoperância do Porto de Itajaí agrava o caos logístico em Santa Catarina, impactando negativamente a economia da região. A resolução dessa crise exigirá um esforço conjunto entre a nova operadora, o governo e os demais setores envolvidos. O objetivo é encontrar soluções viáveis que possibilitem a retomada das atividades portuárias o mais rápido possível
A falta de atividade em Itajaí fez com que muitos armadores deixassem de operar no complexo portuário, reduzindo ainda mais a capacidade de escoamento de cargas. A demanda por serviços foi transferida para outros portos da região, como Itapoá e Paranaguá. Ambos, no entanto, já operavam com capacidade máxima, resultando em congestionamentos e atrasos nas operações.
Eduarda Tajiri Marques, supervisora de produto exportação marítima no Grupo Allog, explica que o desvio de rotas pode gerar custos adicionais para as empresas de transporte e logística, aumentando ainda mais a complexidade do cenário logístico. O congestionamento também costuma gerar custos adicionais de armazenagem, demurrage, sobrestadia e frete.
Como enfrentar o caos logístico?
Segundo a profissional do Grupo Allog, para enfrentar esse desafio, é necessário um esforço conjunto dos diversos setores envolvidos. A gestão eficiente do fluxo de cargas, a busca por rotas alternativas, a negociação com terminais portuários e autoridades regulatórias e a colaboração entre empresas, governo e órgãos anuentes são medidas essenciais para minimizar os impactos negativos do caos logístico.
Eduarda ressalta que, apesar dos desafios do momento, os investimentos em infraestrutura portuária como os realizados na Portonave são fundamentais para garantir a competitividade da cadeia logística catarinense a longo prazo. Além disso, a modernização e ampliação dos portos do Estado serão essenciais para atender à crescente demanda por transporte marítimo e garantir o desenvolvimento econômico da região.